quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Saudade'

Posso resumir numa folha de papel, no tamanho da palavra ou em frases que vos faço escutar. Posso resumir em uma história, em um lugar ou de olhar para olhar. Mas não dá para resumir as distâncias, os pensamentos, os sentimentos que explodem por causa da saudade.

Posso sentir saudade do lugar que visitei, dos amigos que eu fiz, do cobertor quente de uma noite de inverno. Da tarde escura que passei olhando para o mar, do ontem, das risadas, do som que tocava música que me fazia fechar os olhos para relembrar que saudade se faz na distância, mas também no perto, e essa é a saudade que mais dói.

Saudade se constrói pela ausência, pelo vê e nem se quer tocar, pelo sentir e não poder revelar, pelo querer e não poder desejar. Saudade também é toda vontade de repetir momentos que nos deixam em êxtase; repetir os abraços, os cheiro, a vontade de ficar.

Saudade é euforia, expectativa, vontade, ansiedade. Saudade é medo, é distância, é coração que chora. Saudade pode ser a espera, mas também a partida. Saudade é a semente que brota, não porque algo se foi, mas sim porque algo aconteceu.

Tem saudade que só aumenta e outras que sucumbem ao vê o relógio andar. Saudades bem misteriosas que nos fazem sentir e calar. Tanta saudade para existir, tanta gente para sentir e cada coração é que sabe melhor explicar. Ou não!

Não tem palavras que descrevam, não tem saudade que se acabe, e caso se acabe, não é saudade. Saudade poderá ser do que se tem pela metade. Saudade é a vontade de fugir para não ter vontade. Saudade é o não, com vontade do sim. Saudade se tem da parte inteira que já se foi.

Saudade a gente sente do que pode controlar, porque quando se quer de verdade, a saudade maior é ter que evitar. Saudade se sente do que não é seu, porque se está presente, saudade não aconteceu.

Saudade é mentir pra si, é esconder a vontade, é fazer de conta que esqueceu ou mesmo que nunca lembrou.

Saudade é fechar os olhos e mesmo de longe poder sentir o cheiro. Saudade é lembrar-se do tom da voz e sentir os mesmos arrepios de quando se estava por perto.

Saudade é querer e ao mesmo tempo saber que não tenho razão para isso. Saudade é gostar e pedir para nunca ter acontecido, mesmo sabendo que repetiria. Saudade é vazio! Saudade se faz de algo tão bom que existiu. Saudade se faz da vontade de não querer deixar ir embora.

E se nunca sentiu saudade, é porque você perdeu a melhor parte da vida e não aprendeu que saudade não tem tradução. Saudade ultrapassa qualquer explicação.